Com muitas alegrias e paz!!

TEXTOS INTERESSANTES




                                 Tecendo o amanhã
um galo sozinho não tece uma manhã
ele precisa sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que
ele e o lance a outro; de um outro
galo que apanhe o grito de um
galo antes e o lance a outro; e de
outros galos que com muitos outros galos
se cruzem os fios de sol de seus
gritos de galo, para que a manhã,
desde uma tela tênue, se vá tecendo,
entre todos os galos.




   A DIFÍCIL TAREFA DE EDUCAR                                                                                                                                         

Uma das características do ser humano é emitir julgamentos o tempo todo. Toda vez que conhecemos algo ou alguém, nos apressamos em criar um juízo tentando avaliar qualidades, defeitos e, principalmente, as intenções. Para tanto, usamos a percepção que é construída a partir de como ‘sentimos’ as coisas e as pessoas. O problema é que somos, sem exceção, maus juízes; pelo menos enquanto não juntamos todos, ou ao menos quase todos, os elementos necessários para concluir com mais qualidade o que pensamos e o que sentimos sobre as outras pessoas e sobre determinada situação. E isso não é fácil, principalmente porque os julgamentos, quando precipitados, tendem a ser emocionais, relegando a razão a uma segunda instância. E quando, ao contrário, tentamos ser racionais demais, também erramos, pois passamos a desconsiderar valores humanos importantes na composição da pessoa integral. Mas não se culpe, a psicologia nos explica que julgar pelas aparências é normal. A primeira análise que fazemos de uma pessoa ou de uma situação é aquela que busca defender nossa integridade física, portanto é uma análise puramente instintiva. Nosso cérebro primitivo sempre grita ‘cuidado’ diante do desconhecido, principalmente se sua estética não for parecida com a nossa ou com o padrão que apreciamos. A segunda análise é emocional e apenas em terceira instância fazemos um exame racional. Por isso, dê sempre um tempo antes de emitir um juízo de valor e tenha consciência de que eles nunca serão completamente fidedignos.


Eugênio Mussak
                               ANTES QUE OS FILHOS CRESÇAM                                  

Há um período em que os pais vão ficando órfãos
de seus próprios filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós,
como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença a vida.
Crescem com uma estridência alegre e, as vezes,
com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias,
de maneira igual, crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase
com tal maturidade que você sente que não pode mais
trocar as fraldas daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha
que você não percebeu?
Cadê a pazinha de brincar na areia,
as festinhas de aniversários com palhaços
e o primeiro uniforme do maternal?
A criança esta crescendo num ritual de obediência
orgânica e desobediência civil.
E você está agora ali, na porta da discoteca,
esperando que ela não apenas cresça, mas apareça !
Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam
esfuziantes sobre patins e cabelos longos, soltos.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas,
lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração:
incomodas mochilas da moda nos ombros.
Ali estamos nós com os cabelos esbranquiçados.
Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar,
apesar dos golpes dos ventos,
das colheitas, das notícias e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados, observando e
aprendendo com nossos acertos e erros.
Principalmente com os erros que esperamos que não repitam.
Há um período em que os pais vão ficando
um pouco órfãos dos próprios filhos.
Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas.
Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô.
Saíram do banco de trás e passaram para os
volantes de suas próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais a cama deles ao anoitecer
para ouvirmos suas almas respirando conversas
e confidências entre os lençóis da infância,
e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos,
posters, agendas coloridas e discos ensurdecedores.
Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao shopping,
não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas,
nãos lhes compramos todos os sorvetes
e roupas que gostaríamos de ter comprado.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam a casa de praia
entre embrulhos, bolachas,
engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos.
Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela,
os pedidos de chicletes e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais
começou a ser um esforço, um sofrimento,
pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente,
morriam de saudades daquelas "pestes".
Chega um momento que nos resta ficar de longe
torcendo e rezando muito
( nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar )
para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos.
O neto é a hora do carinho ocioso e estocado,
não exercido nos próprios filhos e
que não podem morrer conosco.
Por isso os avós são tão desmesurados e
distribuem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais,
antes que eles cresçam.